Por trás de cada pequeno saque em caixa eletrônico corre uma briga de milhões de reais. Trata-se de uma disputa de titãs da indústria de software, ávidos por dominar um dos maiores nichos do mercado de tecnologia bancária. Até agora, quem mandava no setor era a americana IBM, com o quase onipresente sistema operacional OS/2.
Mas a Big Blue está de partida e, na fila dos caixas automáticos, acotovelam-se, mais uma vez, os arqui-rivais sistemas Windows, da Microsoft, Linux, cujo código aberto é utilizado por centenas de companhias. Representantes de ambos os lados se lançaram numa disputa para ganhar a simpatia dos bancos, administradores e fabricantes de terminais de auto-atendimento. A meta é colocar o próprio software no maior número de caixas eletrônicos possível e abocanhar uma fatia considerável dos investimentos bancários em softwares, que já ultrapassam a cifra de R$ 1 bilhão. A Microsoft já fechou com a Tecban, que administra a rede Banco 24 Horas, e com a NCR, maior fabricante mundial de ATMs (sigla, em inglês, dos caixas automáticos).
O software alternativo, por sua vez, foi adotado pelo Banrisul e já passou por testes no Bradesco, no HSBC e no Banco do Brasil. A disputa ganha força na medida em que a IBM abandona a arena. Descontente com os resultados de seu sistema operacional OS/2 nos micros de mesa, a Big Blue anunciou que irá interromper o suporte técnico ao seu produto em dois anos. A notícia desagradou a muitos, que viam no OS/2 uma solução segura que pouco atraiu a atenção de hackers. Com o caminho livre, a Microsoft e a Conectiva, maior distribuidora de Linux no Brasil, armaram-se de argumentos. “Por ser mais leve, o Linux não exige que o banco faça pesados investimentos em hardware”, diz José Manuel Barbosa, diretor de marketing da Conectiva, que atualmente está conversando com os dez maiores bancos nacionais.
Da parte da Microsoft, os diferenciais ficam por conta das ferramentas multimídia. “Com o Windows, o correntista poderá participar de uma videoconferência com um consultor ou assistir a um comercial enquanto espera o saldo na tela”, diz Celso Winik, gerente de sistemas embarcados da Microsoft. O que mais exalta os ânimos, todavia, é quando o assunto preço entra em pauta. Ao entrar no setor de terminais bancários, a Microsoft optou pelo mesmo sistema que a transformou numa companhia avaliada em US$ 300 bilhões: a cobrança de uma licença por computador. Neste caso, por ATM. “Isto vai gerar um custo que não temos hoje”, diz Waco, da TecBan. A empresa, embora já tenha optado pelo Windows, ainda não entrou num acordo sobre o valor das licenças.
Para poder usar o software da Microsoft por três anos é preciso pagar R$ 236 por caixa eletrônico, enquanto que, com o Linux, desenvolvido pelo finlandês Linus Torvalds, este custo não existe. “Considerando que o nosso parque instalado é de 4,5 mil ATMs, temos que pensar bem antes de tomar qualquer decisão”, diz Jacques Depocas, diretor de canais alternativos do HSBC. Nos antigos contratos com a IBM, os bancos pagavam uma quantia única, sem que o número de caixas eletrônicos entrasse na conta. “Tudo o que aconteceu no mundo dos PCs vai acontecer no mundo dos ATMs”, profetiza Paulo Galarza, superintendente da área de sistemas do Banrisul. Se assim for, a Microsoft estará dentro de 97 mil ATMs Brasil afora, o que lhe renderia um volume de R$ 23 milhões em licenças.
“Ainda não temos idéia muito clara de como as coisas vão acontecer”, diz Eduardo Flach, gerente de ATMs do HSBC. “Só sabemos que o custo não será baixo.”
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